sábado, 30 de octubre de 2010

Você dói em mim ou estou doente e nunca soube ou ainda, a melhor parte de ter você foi quando te perdi...

Os gêmeos


Caminho
Sem temor
Te trago dentro da carne
E minha vida sempre começa
Quando começa a noite
E essa fome que eu sinto
E os dias que se transformam em deserto
Você está morrendo em mim
Resolvi deixar a casa do amor em silêncio
Era outubro quando te vi
E devo agora morrer
A cada instante
Tentando em vão
Não esquecer o brilho dos teus olhos
Os teus braços inocentes
A tua boca em minha orelha
Teu ciúme velado
Fico aqui
Eu, a escuridão e a solidão de nós dois
E a melhor parte de ter você
Foi quando te perdi...

Coração descompassado



Queria te confessar todo meu amor
Mas não sou bom o bastante
No meu canto só, penso en ti
E tudo que te deixo
É esse bilhete em branco.

miércoles, 27 de octubre de 2010

Dor, tempo e dor...



As funções dele vão apagando-se
Uma a uma
Não existe noite
Nem estrelas
Somente há um porão
Do qual ele nunca pode sair
E onde ninguém pode entrar
Ele toma remédios
Que o fazem passar mal
Mas o impedem que enlouqueça
Não se sabe por quanto tempo
Agora só há dor, tempo e dor novamente
Mas não há esperança...

Você está triste porque me ama e sabe que me perdeu...


Você nunca veio e por isso nunca te amei
Meus espaços são surdos
Meu chão não existe
Me abro como uma flor murcha
Não há fotos
Se há alguma, está amarelada
Não sobra nada de nós
E é por isso que devo ser triste?
Procuro meu corpo em minha casa
Tarja preta chama meu sono
Enquanto ele não vem
Não sei se vejo
Ou se sou
Um silêncio sujo no meio da rua
Talvez eu seja um mapa doloroso de mim mesmo
E enquanto passa o tempo
Me sinto o pó de um livro esquecido.

sábado, 23 de octubre de 2010

Você não sabe!!!

Você não sabe quanta coisa eu faria
Além do que já fiz
Você não sabe até onde eu chegaria
Pra te fazer feliz
Eu chegaria
Onde só chegam os pensamentos
Encontraria uma
Palavra que não existe
Pra te dizer nesse meu
Verso quase triste
Como é grande o meu amor
Você não sabe que os
Anseios do seu coração
São muito mais pra mim
Do que as razões que eu tenha
Pra dizer que não
E eu sempre digo sim
E ainda que a realidade me limite
A fantasia dos meus sonhos me permite
Que eu faça mais do que as loucuras
Que já fiz pra te fazer feliz
Você só sabe
Que eu te amo tanto
Mas na verdade
Meu amor não sabe o quanto
E se soubesse iria compreender
Razões que só quem ama
Assim pode entender
Você não sabe quanta coisa eu faria
Por um sorriso seu
Você não sabe
Até onde eu chegaria
Amor igual ao meu
Mas se preciso for
Eu faço muito mais
Mesmo que eu sofra
Ainda assim eu sou capaz
De muito mais
Do que as loucuras que já fiz
Pra te fazer feliz

Maria Bethania (RC & EC)

viernes, 22 de octubre de 2010


Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. 

Clarice Lispector


martes, 19 de octubre de 2010

Porque em algum momento da vida você tem que ler Hilda Hilst

I

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há um tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

II

Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida altivez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.

III

Se refazer o tempo, a mim, me fosse dado
Faria do meu rosto de parábola
Rede de mel, ofício de magia
E naquela encantada livraria
Onde os raros amigos me sorriam
Onde a meus olhos eras torre e trigo
Meu todo corajoso de Poesia
Te tomava. Aventurança, amigo,
Tão extremada e larga
E amavio contente o amor teria sido.

IV

Minha medida? Amor.
E tua boca na minha
Imerecida.
Minha vergonha? O verso
Ardente. E o meu rosto
Reverso de quem sonha.
Meu chamamento? Sagitário
Ao meu lado
Enlaçado ao Touro.
Minha riqueza? Procura
Obstinada, tua presença
Em tudo: julho, agosto
Zodíaco antevisto, página
Ilustrada de revista
Editorial, jornal
Teia cindida.
Em cada canto da Casa
Evidência veemente
Do teu rosto.

V

Nós dois passamos. E os amigos
E toda minha seiva, meu suplício
De jamais te ver, teu desamor também
Há de passar. Sou apenas poeta
E tu, lúcido, fazedor da palavra,
Inconsentido, nítido
Nós dois passamos porque assim é sempre.
E singular e raro este tempo inventivo
Circundando a palavra. Trevo escuro
Desmemoriado, coincidido e ardente
No meu tempo de vida tão maduro.

VI

Foi Julho sim. E nunca mais esqueço.
O ouro em mim, a palavra
Irisada na minha boca
A urgência de me dizer em amor
Tatuada de memória e confidência.
Setembro em enorme silêncio
Distancia meu rosto. Te pergunto:
De Julho em mim ainda te lembras?
Disseram-me os amigos que Saturno
Se refaz este ano. E é tigre
E é verdugo. E que os amantes
Pensativos, glaciais
Ficarão surdos ao canto comovido.
E em sendo assim, amor,
De que me adianta a mim, te dizer mais?

VII

Sorrio quando penso
Em que lugar da sala
Guardarás o meu verso.
Distanciado
Dos teus livros políticos?
Na primeira gaveta
Mais próxima à janela?
Tu sorris quando lês
Ou te cansas de ver
Tamanha perdição
Amorável centelha
No meu rosto maduro?
E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
O que pensa o homem
Do poeta? Que não há verdade
Na minha embriaguez
E que me preferes
Amiga mais pacífica
E menos aventura?
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?
Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?
Ou é mesmo verdade
Que nunca me soubeste?

VIII

De luas, desatino e aguaceiro
Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura
Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura do teu corpo exato.
Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar
Sem amargura. E que me dêem
Enorme incoerência
De desamar, amando. E te lembrando
- Fazedor de desgosto -
Que eu te esqueça.

IX

Esse poeta em mim sempre morrendo
Se tenta repetir salmodiado:
Como te conhecer, arquiteto do tempo
Como saber de mim, sem te saber?
Algidez do teu gesto, minha cegueira
E o casto incendiado momento
Se ao teu lado me vejo. As tardes
Fiandeiras, as tardes que eu amava,
Matéria de solidão, íntimas, claras
Sofrem a sonolência de umas águas
Como se um barco recusasse sempre
A liquidez. Minhas tardes dilatadas
Sobreexistindo apenas
Porque à noite retomo minha verdade:
teu contorno, teu rosto álgido sim
E por isso, quem sabe, tão amado.

X

Não é apenas um vago, modulado sentimento
O que me faz cantar enormemente
A memória de nós. É mais. É como um sopro
De fogo, é fraterno e leal, é ardoroso
É como se a despedida se fizesse o gozo
De saber
Que há no teu todo e no meu, um espaço
Oloroso, onde não vive o adeus.
Não é apenas vaidade de querer
Que aos cinqüenta
Tua alma e teu corpo se enterneçam
Da graça, da justeza do poema. É mais.
E por isso perdoa todo esse amor de mim
E me perdoa de ti a indiferença.


miércoles, 13 de octubre de 2010

Quebrei meu espelho ou tomarei sorvete eternamente ou ainda se eu conseguir suportar a dor que sinto me transformarei em paisagem desértica

Francis Picabia -Paris 1879 - 1953

Meu espelho está quebrado
Não me vejo
Palavras de esquecimento
São as que escrevo agora
Ando pela rua
Sem saber onde guardar tanto
Vazio
Mais uma noite escura
E agora quero que saibas
Mesmo que seja por escrito
Que tudo que eu anseio
É guardar a distância
Para que estejas livres
Do meu abraço
E as vezes, se possível,
Me conte algo de ti.

martes, 12 de octubre de 2010

Desfalecer ou quando eu me entrego ao esquecimento ou ainda, quão longe vejo tua boca da minha


Confundo o passado com o momento presente
Os dois se confundem em mim
Tentam ser um só
Dois em um
Solidão e morte
Saudade e amor
Sempre me perdi em teus braços
Era esse exato instante
Que me sentia feliz
Não me alimento mais de ti
Escolhi a fome
Existe agora um largo caminho
Entre a tua boca e a minha
Há ferrugem em meus ossos
Devo escrever com sangue
Nas folhas de papel em branco?
Quando me olho
Vejo correntes
E não tenho mais teus olhos
Para velar meu sono
Tudo se transformou
Em uma sede amarga
E tudo que um dia não fomos
Está escrito em páginas sujas
Tudo que tenho
Um gesto
E essa ferida que não cessa
De sangrar
Porque antes eu te olhava
E via o amor
E hoje te olho
E vejo o esquecimento.

lunes, 11 de octubre de 2010

Meu abacate caiu no chão ou você jogou um tomate em mim


Não é possível saber quando vou ficar mudo
A vida me fez assim, sórdido em cada esquina
Muto
Mudo
Mutado
Calado
Meu sentimento é falho
Nunca conseguimos ver-nos
E por isso, nunca falamos o que devia ser dito
Eu lembro das promessas e dos alfajores
Agora sou um prego enferrujado
Na felicidade de alguém
Ando tão desapegado das coisas que não são minhas
Sei que existe o tempo
E que no tempo existem os dias
Mas me apavora o dia
Aquele dia
Que cruzaremos a mesma rua
E não será surpresa
Porque entre nós
Não existe mais nenhuma
Denúncia inesperada.

Nós contemos multidões


Devia ser assim:
Eu te pergunto e você me responde.
Porque está assim:
Eu te pergunto e você mente.
E mentir não é resposta.
Eu preciso dormir
A que devo todo esse tormento
Sonhei que era feliz
Foi tão efêmero
Que nem pude mostrar
A mim mesmo
Como era sentir-se assim
Agora espero tuas respostas vagas
Que venham juntas com as águas de teus olhos
Porque não suporto mais a minha pele a queimar.

domingo, 10 de octubre de 2010

Negue que me pertenceu



Se sobra algum resquício de nós eu não sei
Sigo pelo correrdor estreito de minha vida
Procuro tua imagem
As paredes me sufocam
Eu piso nos restos e tua ausência
Que aos poucos vão escorrendo de dentro de mim.

Cinzas de dezembro n.º 1

Parida em 2006 em Granada Espanha, sofrida, gelada, pero no mucho...



Eu descobri
Que sou um colecionador
De dezembros gelados
Um homem sem luz
E sem casa
Vivo desesperado
E embriagado
De recordações
Abatido pelas águas
Que brotam de meus olhos
Toda madrugada
Sempre me sinto triste
E penso que cheguei ao fim
Sinto que meus passos
Tornaram-se pesados
Quisera eu às vezes
Dominar o vento
Que invade o meu coração
E acabar com a imensa solidão
Que habita meu peito
Sem teu amor
Me sinto vazio e frio
É sempre inverno
No fundo de meu coração
E como se eu fosse dezembro
Me torno cinzas
E sei que um dia hás de sentir
Meu corpo
Mesmo sem vida
Junto ao teu

O camaleão e todas as cores desbotadas de um amor ou ainda o mimetismo dessicronizado de uma alma sem alma




O camaleão cromático mimetiza o eco do gramofone
É quando saio de mim mesmo para me encontrar no outro
Agora tenho apenas uma cicatriz ocultante
Quando você avança eu perco de vista o horizonte
E fico sem saber por quanto tempo esperarei você passar por mim.

Não é possível saber quando tudo emudece


Minha vida é uma esquina
Um mercado de frutas
Um celeiro em dia de chuva
Minha vida é uma promessa atroz
É um feriado imprensado
Um anúncio luminoso
Eu me perdi
Não sei
O que sei agora
É que há coisas na vida que só podem ser resolvidas junto do corpo de quem se ama.

Não me beije nunca mais com sua boca mesquinha



Você não voltará amor?
Era um jogo?
Me surpreendi com seu peito aberto e a saliva que saia da tua boca para a minha.
Foram golpes da vida tão fortes como nunca os viu alguém.
Era veneno?
Não posso responder.
Os mortos não falam.

Eu me confundi com a rua




Cansado da claridade
Entrei no escuro
Dolorosamente comprendi
E percebi como ele é belo e triste
Aqui dentro me sinto atropelado por um rio
Ninguém me vê
Ninguém questiona
Niguém existe
Só eu
As vezes vejo vultos de corpos familiares
Rostos conhecidos que na verdade nunca os vi
Passam
Sorrindo
Chorando
Lastimando-se
Uns cantam
Outros recitam
Mais a maioria chora
Não encontro minhas orelhas
Está tão escuro
E eu coleciono rostos
Não como os que vi passar
Coleciono aqueles que nunca verei
Não é possível que eu esqueça esta rua
A minha alma em outra pele
Era novembro quando amanheceu
Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Me sento na rua e me vejo passar
Já são tantos os cabelos brancos
Até quando eu esperarei por você?
Tudo em mim dói como a incerteza.

sábado, 9 de octubre de 2010

Vela: O dadaismo me corroeu então souviens-toi!!!

"Te he visto pasar indiferentemente y ni una emoción se apoderó de mi, más nunca jamás perdonaré tu ausencia, tu cruel indiferencia y quiero que tu sepas que has muerto para mi" (Lecuona)




Se aproxima novembro
Como uma praga vaga e inerte
Como um beijo de marinheiro
Eu te peço uma palavra
E você me dá o silêncio
Meu coração mudo e parco de sentimentos
Não sonha mais e isso é tão triste como cadeira vazia
Nenhum vento sopra mais em meu peito aberto
Eu quero te dizer:
Amor
Você dói em mim
Sempre entre quatro paredes
E por isso, não vejo nunca ninguém
A primeira vez que você me disse adeus era novembro
De onde vinha todo aquele amor?
Agora chegas vestido como um vendedor de água que cai sobre meus olhos
Sobre você e não sobre mim, é lágrima
Lembro que no ônibus você passou a mão em meus cabelos
E na rádio tocava "total eclipse of the heart"
Nesse dia não houve morte, só nebrina e mais cadeiras vazias
Mas eu via que seus olhos começavam a ficar escuros
Era terrível estar sozinho no meio da rua
Nós queríamos que nos amássemos
Nos olhávamos, mas nunca éramos um, sempre fomos dois
Nem quando olhamos o mar você foi leal
Fala-me de teus olhos, conta-me tuas feridas abertas
E se fez outra vez silêncio
Porque você nunca voltava e era tarde e eu te esperava
Assim nunca poderíamos ser você e eu em um
Volta
Vem ver o que fez o teu amor
Me faço morrer a cada instante
Hoje te escrevo outra vez
As ambulâncias que me levam ultrapassam todos os semáforos
É hoje
Não te quero mais
Não te quero ver mais
Não te quero ter mais
Sai de dentro de mim
E me olha, eu serei torpe
Para você, que tudo sabe e nada entende, nada compreendeu
Alguma vez, mesma que pareça um sonho, voce me amou?
Lembre-se de sua dor, ainda posso ouvir seus gritos
Quem virá para me dizer que você nunca mais voltará?
E que levou todos os meus discos
Fiquei apenas com um cigarro não fumado a ouvir "tocata e fuga"
INTERMITENTEMENTE
Você confudiu a liberdade com aventura
Nunca quis sua fidelidade
Esperei sua lealdade
E não vi nenhum sentimento além de você
Meus lábios se calarão
Agora me encontro em outro que não sou eu
Uma triste razão que me fazia forte
Não mais a encontro
Talvez algum dia
Em algum ano
Talvez 2654
Nos citem
Não hoje, mais em um tempo diferente
Hoje eu apenas te faço uma pergunta
Você sabe quem me matou?

viernes, 8 de octubre de 2010

Veto: Mais um poeminha dadaísta ou rancor de alma ou ainda criação de gênio...


Quem sabe eu sinta saudade de você
Ainda que para mim nada mais é coerente
Odeio essa forma como entras em meus pensamentos
Escrevo palavras no ar, em minha mente cansada de ti
Depois de muito tempo penso:
Meu amor é como um cavalo morto
Ninguém está livre do inconsciente
Agora a solidão não se esgota de meus lábios
E é a noite que eu descubro que você nunca me disse nada
"Saio mais vazio do que entrei"
Agora quando olho a rua
Vejo que existe uma mesma porta para todos
O que muda é a maneira que cada um passa por ela
Eu sou um assassino do vazio
Não posso confessar amado meu
Mas se pudesse eu diaria:
"Que morras então e apodreças no oco do teu caixão".

Poeminha Dadaísta!!!


Percebido momento
Sua compreensão
Seu ondulante
Conduzir
Poucas sensações
Mínimas
Um detalhe
Andar
Às vezes
Meio
Sem
Alma.

jueves, 7 de octubre de 2010

AR DE NOTURNO


Tenho muito medo 
das folhas mortas, 
medo dos prados 
cheios de orvalho. 
eu vou dormir; 
se não me despertas, 
deixarei a teu lado meu coração frio. 

O que é isso que soa 
bem longe ? 
Amor. O vento nas vidraças, 
amor meu ! 

Pus em ti colares 
com gemas de aurora. 
Por que me abandonas 
neste caminho ? 
Se vais muito longe, 
meu pássaro chora 
e a verde vinha 
não dará seu vinho. 

O que é isso que soa 
bem longe ? 
Amor. O vento nas vidraças, 
amor meu ! 

Nunca saberás, 
esfinge de neve, 
o muito que eu 
haveria de te querer 
essas madrugadas 
quando chove 
e no ramo seco 
se desfaz o ninho. 

O que é isso que soa 
bem longe ? 
Amor. O vento nas vidraças, 
amor meu! 

 Federico Garcia Lorca

Da fuga - Federico Garcia Lorca

Ao meu amigo Miguel Pérez Ferrero

Perdi-me muitas vezes pelo mar,\
o ouvido cheio de flores recém cortadas,\ a língua cheia de amor e de agonia.\ Muitas vezes perdi-me pelo mar,\ como me perco no coração de alguns meninos.\ Não há noite em que, ao dar um beijo,\ não sinta o sorriso das pessoas sem rosto,\ nem há ninguém que, ao tocar um recém-nascido,\ se esqueça das imóveis caveiras de cavalo.\ Porque as rosas buscam na frente\ uma dura paisagem de osso\ e as mãos do homem não têm mais sentido \ senão imitar as raízes sob a terra.\ Como me perco no coração de alguns meninos,\ perdi-me muitas vezes pelo mar.\ Ignorante da água vou buscando uma morte de luz que me consuma.