miércoles, 26 de enero de 2011

Saio mais vazio do que entrei!!!


Gustave Caillebotte (Paris, 19 de Agosto de 1848 - Gennevilliers, 21 de Fevereiro de 1894)


Quando o coração insiste
Seja mais forte e persistente
Não amar torna a alma vazia
Amar faz a alma apodrecer
Descobri que o amor e a tristeza são irmãos
Andam juntos
A elaborar planos
A endoidecer a permissão
Exagerar nos sentimentos
Depois de tudo instalado
Quando tudo amanhece em você
Quando a noite torna-se quieta
Chega a espera
Entra então a tristeza
Em suas asas ela traz o abandono, o vazio e a dor
Te imobiliza
E tudo que você deseja é deixar de existir
Confesso: gosto da dor
Essa dor aguda que parece não ter fim
Se me perguntarem porque gosto da dor
Responderei sem hesitar: Prefiro sentir a dor que não sentir nada
E hoje como há muito suspeitava
Não tenho mais coração
E a cada vez que alguém se vai
Eu saio sempre mais vazio do que entrei.

miércoles, 19 de enero de 2011

Todo tempo que não tenho ou a lágrima que nunca seca!!!


"Para ver todo que se ha ido
Amor inexpugnable, amor huido!
No, no me des tu hueco,
Que ya va por el aire el mío
Ay de ti, ay de mí, de la brisa,
Para ver que todo se ha ido. 
(Federico Garcia Lorcar)

Tenho tido quase tudo, tempo que é o mais importante para inventar o que fazer, mas o meu tempo é o do pensar, vaguear, sentir que posso me afastar de mim estando eu sempre a esmo, no mesmo lugar onde me deixei ficar, atônito, opaco, sem viço algum, sem nenhum interesse por mim mesmo, apenas eu ali, num canto qualquer de mim mesmo, solto e ao mesmo tempo preso, as vezes soberbo, as vezes inerte, outras vezes lacrimejante. 

Assim, entro eu numa nova década de espera. "Espera", palavrinha presente e vaga, porque não sei por onde esparar a espera, não sei onde começar a procurar. É isso, como não sei o que busco, espero e, nessa espera de não se saber o que se espera e muito menos o que se busca, vou deixando de ser eu e cada vez mais longe de mim, me perco e perdido não posso voltar a mim e sem voltar a mim, não posso mais ser eu e não sendo eu, sou outro e não tenho gostado desse outro que agora sou, já que me perdi e não voltei mais a mim.

E agora? O que faço eu com esse outro? Devo deixá-lo ficar? Ou deixo que ele se perca como eu me perdi? Se ele se perder, virá um outro diferente? E se esse outro diferente que vier não for nada parecido com o primeiro eu que se perdeu e muito menos ainda, bem diferente do eu que agora sou, (me perdi), e que não ando a gostar. Não sei.

Tenho dias bem felizes dentro de mim, mas é uma felicidade presa, porque esse eu, na verdade esse constante de "eus" novos, mutam muito rápido e não consigo distinguir quando tenho um novo eu alegre ou um novo eu triste, assim, a felicidade fica presa em alguma parte, com receio de sair. Já a tristeza chega todas as noites e deita com esses "eus" que agora sou, enquanto o eu que creio está perdido vem em sonhos, esse eu traz consigo sua lembrança, adormeço serenamente como se estivesse em teus braços, mas chega o dia e um novo eu desperta.

Percebo com o tempo que tenho, com todas as noites vazias, que a cada dia sou um eu mais vazio de ti, e  não sei até quando viverei assim, um constante entrar e sair de mim como seu eu fosse muitos, quando creio não ser ninguém. Não tenho respostas, mas sendo vários como sou agora, acredito que te tenho inteiriço como nunca pude te ter. Então que seja assim, serei um novo eu a cada dia, e a cada noite volto a ser eu mesmo, e decreto a mim mesmo que eu possa ser tudo que queira ser, vento, chuva, tempestade, poeira esquecida, livro de poesias, o outro que você beija, água de rio, amanheceres, noite de lua, disco na vitrola, balanço de rede... Serei tudo isso para afastar o que quero ser nesse momento...

Sendo tudo que quero, chegará o momento em que não serei nada, não sendo nada, posso escolher um fim, serei árvore então, sendo árvore por um tempo, terei tempo pra pensar no que não fomos, desejarei  não mais sê-la, deixando de ser árvore, volto a ser outros, todos os outros menos eu, serei todos os outros que possuem tua boca, tua pele, teu corpo, serei sempre o outro e nunca eu mesmo, sendo outros serei sempre teu, mesmo que nunca voltes a mim e nunca mais outra vez e sempre sejas de volta meu, eu sei, diz um dos meus "eus": "eu e você nuca fomos nós".

Mas em meu peito há um pássaro de papel que sempre canta: "que el tiempo de los besos de amor no ha llegado"...

lunes, 17 de enero de 2011

Parar pra pensar, deitar no tapete e olhar o teto.



Esses dias vazios
Tenho você entranhado em mim
Penso em você todo o tempo
E com o tempo que sobra
Eu penso em você mais um pouco.

Todos os dias
Quando estou ao banho
Penso em você
E no chuveiro esqueço se lavei o cabelo

Então lavo o cabelo novamente
Sem saber ao certo se o lavei
Acontece que estou ficando sem champú.

(Verdades cotidianas I)

Antes que janeiro acabe!!!



É tão imenso o vazio de nós dois, que tudo em mim é nada
Trago janeiro na carne como se fosse dezembro
Coleciono novas palavras de mim para o outro
Tenho cadernos vazios e palavras desfeitas em versos tristes
Tudo em mim anda perdido como a vaga
E tua presença sempre a me perguntar o que me resta
E eu?
Ai de mim, sem resposta pra quem sou agora
Me vejo a vagar
E agora meu coração não tem lugar próprio
Não sou mais dono do meu coração
Sou todo coração
Em todas as partes palpito...

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!

Florbela Espanca