sábado, 19 de marzo de 2011

Hoje não pude dizer pra mim mesmo se houve un "nós" entre eu e você!!!

Georges de La Tour (Março 13, 1593 – Janeiro 30, 1652)-França

Foi Julho sim. E nunca mais esqueço.
O ouro em mim, a palavra
Irisada na minha boca
A urgência de me dizer em amor
Tatuada de memória e confidência.
Setembro em enorme silêncio
Distancia meu rosto. Te pergunto:
De Julho em mim ainda te lembras?
Disseram-me os amigos que Saturno
Se refaz este ano. E é tigre
E é verdugo. E que os amantes
Pensativos, glaciais
Ficarão surdos ao canto comovido.
E em sendo assim, amor,
De que me adianta a mim, te dizer mais?

(Hilda Hilst)

martes, 15 de marzo de 2011

Eu te amo por nós dois!!!

Bretanha - França
Me perdoa amor a indiferença
De ideias vagas mesmo sem ser teu
Mas todas as lágrimas serão sempre minhas
O pranto da infelicidade será só meu
A agonia das noites solitárias
Os domingos tristes e cinzentos
A dor da ausência sentida a teu lado
Me perdoa todo esse amor de mim
E como um sopro vago
Eu sem te ver
A sentir teu desamor
Sem tua boca
Interroga-me
Te imploro
E você nunca precisará me amar
O meu amor será suficiente pra nós dois...


"Lave ma memóire sale dans ce fleuve de boue"...

lunes, 14 de marzo de 2011

Chego onde sou estrangeiro...



Nada é tão precário quanto viver
Nada quanto ser é tão passageiro
É quase como gelo derreter
E para o vento ser ligeiro
Chego onde sou estrangeiro
Um dia passas a margem
De onde vens mas onde vais então
Amanhã que importa que importa ontem
Muda o cardo e o coração
Tudo é sem rima nem perdão
Passa na tua têmpora teu dedo
Toca a infância como os olhos veem
Baixa as lâmpadas mais cedo
A noite por mais tempo nos convém
É o dia claro envelhecendo
As árvores são belas no outono
Mas da criança o que é sucedido
Eu me olho e me assombro
Deste viajante desconhecido
Seu rosto e seu pé desvestido
Pouco a pouco te fazes silêncio
Mas não rápido o bastante
Para não sentires tua dessemelhança
E sobre o tu-mesmo de antes
Cair a poeira do tempo
É demorado envelhecer enfim
A areia nos foge entre os dedos
É como uma água fria em torvelim
É como a vergonha num crescendo
Um couro duro corroendo
É demorado ser um homem uma coisa
É demorado renunciar totalmente
E sentes-tu as metamorfoses
Que se passam internamente
Dobrar nossos joelhos lentamente
Ó mar amargo ó mar profundo
Qual é a hora da preamar
Quanto é preciso de anos-segundos
Ao homem para o homem abjurar
Por que por que esse gracejar
Nada é tão precário como viver
Nada quanto ser é tão passageiro
É quase como gelo derreter
E para o vento ser ligeiro
Chego onde sou estrangeiro

Louis Aragon (Paris, 3 de outubro de 1897 — Paris, 4 de dezembro de 1982) foi um poeta e escritor francês.