viernes, 11 de junio de 2010

Construção de dois "3": Gildo e Danski, no escuro do penhasco



Acordei de alma mais puída que o amor que procurei entre os vãos.
Talvez porque minha alma seja mais ilha do que eu me sinta mar.
O que é minha intenção? Borboleta preta ou lagarta verde? Não sei.
Não passo a vida buscando o passado que eu quis.
O passado passou e só ilumina o que deixei lá atrás.
Vou em busca é do escuro dos penhascos.
E não ofereço minha mão perguntando a ninguém
"Se eu pular, você pula?"
Prefiro pensar que sou estrada muito estranha, pra alguém trafegar.

"Poucas serão as pessoas que vão querer
carregar a mesa de madrugada com você.
Quando achar essa pessoa, acabou sua busca."
Estava escrito isso no meu biscoito da sorte.
Mas sabe? Prefiro carregar só e você me diz onde fica melhor
e vou te amar assim mesmo.
A gente discute e assim se encaixa.

Sei que é trabalho pra Hércules achar quem carregue junto
e se você achar, agarre, respeite, compreeenda e alimente o amor
até que chegue o dia de alguém partir.
Em vez de procurar a metade, alguém que carregue a mesa
penso é que jamais me contentaria com remendo.
Sei que minha metade veio ao mundo pra me ver e nunca me encontrou
E a mim pouco importa o que foi feito dos tesouros
que busquei em vãos puídos.
Mudo a vista de lado, e calo, esperando a calmaria dos ventos
O resto? Vai fluindo, vazando, escorrendo...

É, eu bem que chorei e esse amor foi um dilúvio,
naufrágio ou rio de lágrimas. Sobrevivi de alma já seca.
Porém não me iludo e sei que o pior ainda será
suportar o vazio do porta retrato
e eu tenho um vazio aqui. A foto vai e vem.
Mil vezes rasguei, revelei
E tentei além de mim, muitas vezes
Então tornei a rasgar...
Acho que vou amar alguém que me ame
e mesmo que saiba que eu não amo, vou achar que sim
Pra vida ficar menos árdua.

É que quando a gente ama, se perde.
Melhor não é amar, é curtir os sentimentos
sem deixar que a dor entre ao passar pela porta.
E se ela chegar, aviso que é o dia de faxina
E que tô jogando fora os livros sobre metamorfoses
Porque quanto mais a gente ama, mais o amor acontece
E muda, transforma. E o amor não quer transformação
Quer ser vivido, amado, sentido...
A velha história no escuro do penhasco
Se eu pular, você pula?

Cansaço de cair só no vácuo
e procurar o amor naquele tal puído dos vãos...
De dar-me por inteiro e receber tão pouco...
Li ontem um velho poema teu, "Meu coração em pó"...
"No corredor estreito que se tornou a minha vida,
eu sigo procurando tua imagem, as paredes me sufocam,
enquanto eu piso nos restos
da ausência que o teu amor deixou..."
Penso que já não dá mais pra mim.
Sofrer amadurece e eu quero mais é ser criança.
Daqui a pouco olho no espelho e pergunto:
Quem sou eu? O que fiz de mim?
Crise existencialista a essa altura, dá mais não...

...mas sabe o que em mim pesa agora?
É que ninguém quer mais ouvir a mesma história
Já encheu o saco e não da pra ter dois lados:
um que ri e um que chora a mesma mágoa,
o mesmo tédio, a mesma angústia funda sem remédio,
Eu vou é me dar ao luxo, mudar o mote.
Sei que o tempo não tem feição, não tem cheiro e nem tem cor...
Então se é assim, estarei na porta de saída, vendo o portão de chegada.

E rasgo de vez aquela carta que te escrevi faz 10 anos
mas esqueci de entregar.
Assim como você não quis explicar quando foi
que esqueceu de dizer que deixou de me amar, pra não me magoar.
Sei que você não tem culpa, afinal, por mais que acredite
que minha cabeça seja diferenciada de muitas
e que tenha um monte de vozes gritando ao mundo e a mim
que quando alguém abandona outro alguém devia apenas dizer:
"vou de trem, adeus meu bem e passe bem".

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