É tão imenso o vazio de nós dois, que tudo em mim é nada
Trago janeiro na carne como se fosse dezembro
Coleciono novas palavras de mim para o outro
Tenho cadernos vazios e palavras desfeitas em versos tristes
Tudo em mim anda perdido como a vaga
E tua presença sempre a me perguntar o que me resta
E eu?
Ai de mim, sem resposta pra quem sou agora
Me vejo a vagar
E agora meu coração não tem lugar próprio
Não sou mais dono do meu coração
Sou todo coração
Em todas as partes palpito...
Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!
Florbela Espanca
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